4 de julho de 2012

Entrevista com Evandro Texeira

Evandro Teixeira é considerado um fotojornalista carioca. Sua ascenção na profissão, de fato, se deu na Cidade Maravilhosa, mas foi na sua terra natal, Bahia, que o fotógrafo iniciou a carreira. Nascido em Irajuba (BA) e tendo passado a adolescência em cidades baianas como Ipiau e Jequie, Evandro Teixeira conseguiu a primeira oportunidade dentro da reportagem fotográfica em 1957, no Diário de Notícias de Salvador (Diários Associados). Mais de 50 anos depois, o fotojornalista ultrapassou a geografia baiana e carioca e é hoje reconhecido em vários países. Nessa entrevista ao Imagem sem Fronteiras, Evandro Teixeira expõe parte do seu pensamento, alimentado diariamente pelo olhar fotográfico.

Exposição na Galeria Olho de Águia,
pelo Imagem sem Fronteiras

Como foi seu primeiro contato com o fotojornalismo?
Ainda na Bahia já me interessava pela fotografia. Foi lá que comecei a aprender a fotografar em Jequie, como Antenor Rocha, tio do cineasta Glauber Rocha, e com o Valter Lessa, do Jornal Jequie. Fiz cursos e contatos com profissionais. Zé Medeiros foi meu grande mestre. Mas eu queria ganhar a profissionalização e tinha muita ambição de conquistar o meu espaço. Decidi que o caminho era ir para o Rio de Janeiro.

E como foi essa caminhada no Rio de Janeiro, até chegar nos grandes jornais?
Meu primeiro emprego no Rio foi no Diário da Noite, em 1957. De lá, fui direto para o Jornal do Brasil, onde trabalhei por 47 anos. Foi lá que obtive a oportunidade de registrar grandes acontecimentos do Brasil e do mundo, uma vez que ainda não existiam as agências de notícias. Posso destacar o Golpe Militar de 1964, no Brasil, e o do Chile, em 1973. Além de fatos importantes políticos, tive grandes momentos de cobertura esportiva, como copas do mundo e olimpíadas.

Você foi o principal fotojornalista brasileiro a registrar a ditadura militar. Como era fotografar em meio à censura daquele regime?
Era complicado e bastante desafiador. A censura era enorme e não se podia registrar os fatos, mesmo que estivessem acontecendo no meio da rua. Naquela época, muitos jornalistas e outros formadores de opinião foram pegos e torturados, mas eu tive a sorte de conseguir trabalhar sem sofrer nada de grave. Meu acervo da época se tornou referência daquele momento no Brasil. Até hoje minhas fotos são procuradas por expositores, publicações, etc. A fotografia tem o poder de eternizar um momento. O fotojornalismo tem o objetivo de contextualizar um fato. Algumas imagens podem ser utilizadas como documentos/retratos de uma sociedade.

E a foto do Pablo Neruda morto. Você foi o único a registrá-lo. Conta um pouco sobre essa perspectiva do fotojornalista em estar no lugar certo e na hora certa.
O fotojornalista tem a função contextualizar um acontecimento, uma mudança de comportamento através das imagens. Este profissional deve servir como portador de uma informação em forma de imagem, que se torna capaz de resgatar um momento por muitos e muitos anos. Neste acontecimento, eu recebi uma informação de que o poeta estava internado em um determinado hospital. Fui atrás de checar a veracidade da informação e quando cheguei lá era o único no local. Fui logo registrando o fato antes de ser descoberto. Momentos depois, o poeta veio a falecer no mesmo hospital.

Você consegue escolher uma foto preferida entre todos os registros que fez até hoje? 
Gosto muito da foto "Casamento em Paraty", registrada em 1969. Trata se de um casal humilde na porta da igreja fechada. Sem pompas, sem festa e sem convidados.

Arquivo pessoal - Evandro Teixeira


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