21 de maio de 2012

Entrevista com Severino Silva

Desde a infância em Pirirpituba, na Paraíba, Severino Silva põe em prática seu olhar fotográfico. Já nessa época, referências simples viravam objeto de observação: como as frestas de luz que reluziam entre as palhas do telhado de casa, formando desenhos na sala. Da infância, o papel de observador ganhou um caráter mais sério e profissional, transformando Severino Silva em um dos principais fotojornalistas do Rio de Janeiro e do País, com reconhecimento internacional. Nessa breve entrevista ao Imagem sem Fronteiras, o fotógrafo fala um pouco sobre o que motiva o seu trabalho e sobre a singularidade da profissão.


Como e onde foi o início da sua carreira no fotojornalismo?

Comecei no jornal O Globo como contínuo, mas quando entrei eu já tinha o objetivo de ser fotógrafo. Pensava que se estivesse perto dos fotógrafos eu poderia aprender a profissão. Fiz um curso de fotografia no Liceu de Artes e Ofícios e comecei a sair nas pautas com, tendo a oportunidade de ver o trabalho de cada um. Minha primeira foto foi sobre estacionamentos irregulares, publicada no jornal de bairros do O Globo.

Como surgiu na sua trajetória a especialidade de fotografar conflitos urbanos armados?

Não me considero um especialista em fotos de conflitos urbanos. O que faço é cumprir a pauta que me é dada quando chego para trabalhar no jornal.

Como é sua relação com os dois extremos? Polícia e criminosos?

Acredito que para realizar bem meu trabalho como repórter fotográfico eu devo respeitar os envolvidos na cena que vou fotografar. No caso dos conflitos entre policiais e bandidos, não é meu papel julgar e sim passar minha emoção através da fotografia.

E as coberturas de procissões religiosas?

Comecei a fazer um trabalho relacionado à fé depois de cobrir festas religiosas, como a de São Sebastião, que é o padroeiro do Rio de Janeiro, a de São Jorge e as oferendas para Iemanjá nas festas de final de ano. Desenvolvo atualmente um projeto cujo tema é “Fé, luz e sombra”.

Hoje, com tantos aparelhos tecnológicos, muitas pessoas fotografam fatos cotidianos,que repercutem na mídia. Como você avalia o futuro do fotojornalismo?

Precisamos fazer a diferença entre fotojornalismo e registros fotográficos. Dessa forma não vejo nenhuma ameaça vinda das fotos de celulares e outras mídias. Acho que é muito enriquecedor para a sociedade que as pessoas participem, que fotografem de seus celulares e mandem seu registro para o jornal, para a televisão. Em uma cidade grande, onde o trânsito é muito intenso, às vezes não dá tempo de chegar ao local onde acabou de acontecer um fato jornalístico. Acho importante que esse registro possa ser feito por alguém que estava passando por lá, por exemplo.

Como você encontra equilíbrio emocional para fotografar em ambientes violentos e perigosos? O medo ou algum outro sentimento já atrapalhou?

Quando chego em um tiroteio eu tenho medo sim, quem diz que não tem medo deveria começar a ter (risos). O medo é um sentimento natural para nos manter vivos. Procuro um local seguro e com um bom ângulo. Claro, que nem sempre isso é possível. Mas a experiência ajuda bastante e com o tempo dá para ver a foto, ouvir os tiros, apertar o botão e agradecer a Deus por mais um dia de trabalho.

Qual a dica que você dá para aqueles que desejam trabalhar com a reportagem fotográfica?

Acredito que a disciplina, a vontade de aprender e muita força de vontade são fundamentais para o desempenho de qualquer profissão. É preciso não desistir, porque as dificuldades são muitas, mas é assim em qualquer profissão.

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